terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

"O Hobbit" e um povo perseguido

Foi apenas no último dia de exibição nos cinemas é que consegui assistir O Hobbit  Uma Jornada Inesperada, a adaptação da obra de J. R. R. Tolkien, O Hobbit  ou Lá e de Volta Outra Vez, que narra a aventura de Bilbo Bolseiro antes dos eventos da trilogia O Senhor dos Anéis. É em O Hobbit que Bilbo, tio de Frodo, encontra aquele que talvez seja o artefato místico mais poderoso da Terra-Média... o Um Anel.

Para começar, eu ia acabar me arrependendo caso não assistisse esse filme no cinema, pois foi apenas no último dia em que eu e minha namorada conseguimos comprar os ingressos, mesmo sendo para a última sessão. E esse é o tipo de filme que deve ser assistido nos cinemas, pois em casa não tem a mesma graça.

Tolkien e a mitologia nórdica/germânica

Sobre a obra de Tolkien, é preciso mencionar que uma parte dela tem como referência a mitologia nórdica/germânica, algo facilmente identificado com a presença do Um AnelO poema Nibelungenlied inspirou o compositor alemão Richard Wagner a criar a ópera O Anel dos Nibelungos, que conta a história de um poderoso anel que foi forjado por anões, os seres mestres na arte de trabalhar os metais.

Um dos anões, Alberich, é quem forja o anel; o outro, Fafnir, é quem se transforma em um dragão e, cobiçando o artefato místico para si, passa a guardá-lo com seu tesouro, além de aterrorizar os habitantes de Midgard.

"Midgard" é a Terra nas lendas nórdicas/germânicas, algo que poderia ser traduzido como "Terra do Meio", o que nos remete à "Terra-Média" da obra de Tolkien. Fafnir, o dragão, guarda seu tesouro e espera pelo inevitável combate que será travado com Siegfried, o herói da saga que busca por sua amada Brünnhild. O Anel dos Nibelungos, assim como o Um Anel, também possui um tipo de maldição por conter nele uma essência maligna.

As referências do cristianismo na obra de Tolkien

Obviamente que a mitologia nórdica/germânica não é a única referência que Tolkien utilizou para escrever suas obras. Ao ler sobre a origem do universo da mitologia criada pelo escritor, percebe-se o quanto o cristianismo serviu de inspiração para o autor, algo que não deveria causar surpresa, pois Tolkien era cristão.

Na obra existem seres que podem ser identificados como anjos, no que seria o momento da Criação. Além disso, existe uma espécie de rebelião celestial provocada por um desses seres, e o mesmo acaba caindo em desgraça, sendo julgado e preso. Com a ambição pelo poder máximo, Morgoth, o "anjo caído", começa a degenerar tudo o que foi criado pelo Deus supremo da obra de Tolkien.

Fingolfin enfrenta Morgoth
Fingolfin enfrenta Morgoth – O Silmarillion

Morgoth é quem espalhará a maldade na Terra-Média, conseguindo até mesmo seduzir e corromper alguns seres iluminados para que façam parte de seu exército sombrio. A raça dos Orcs, por exemplo, foram originados quando Morgoth e seus aliados escravizaram alguns Elfos (uma das primeiras raças criadas) e os desfiguraram através de magia. Isso também lembra o propósito de Lúcifer, pois ele emprega métodos visando degenerar a Criação de Deus. Na bíblia, temos o seguinte:

Depois que foi expulso do Céu, Satanás colocou seu foco no planeta Terra com o fim de levar a raça humana a se rebelar contra Deus (ver Gên. 3:1-5). Satanás sabia que Deus havia dado a todas as criaturas, angelicais e humanas, a liberdade de escolha.

Lúcifer deseja destruir o homem, que foi feito à imagem e semelhança de Deus, por invejá-lo. Morgoth possui o mesmo desejo. Sobre a origem do universo de Tolkien, é preciso ler O Silmarillion.

As cicatrizes de uma guerra

Ao assistir o filme, fiquei divagando sobre a situações na qual os anões ali se encontram e isso me fez pensar sobre a semelhante situação de um povo que, de acordo com a História da humanidade, sempre foi perseguido. Conversei sobre isso com a minha namorada ao chegar em casa, explicando exatamente esses pontos que agora escrevo neste artigo.

Os anões foram expulsos de seu antigo reino localizado sob a Montanha Solitária, isso pelo dragão Smaug. Após destruir o reino, o dragão repousa sobre o tesouro desse povo. Esse mesmo reino, conhecido na Terra-Média pela sua beleza, foi construído ao longo das eras sendo resultado do árduo trabalho dos anões, gerações que ali que viveram. Quando Smaug, criatura essa que veio das "Terras Ermas", lançou o seu ataque sobre o reino, os anões não puderam contar com a ajuda dos elfos ou até mesmo dos homens.

Expulsos de suas terras, os anões acabaram se dispersando pela Terra-Média, tentando firmar-se em algum lugar, mas sem a esperança de viverem os dias de glória de outrora. O ressentimento recaiu sobre os que vivenciaram a indiferença dos elfos no dia em que o reino foi atacado, principalmente sobre o herdeiro daquele reino, Thorin Escudo de Carvalho.

Thorin Escuro de Carvalho e seus anões

Tolkien participou da Primeira Guerra Mundial, presenciou os horrores da guerra e voltou com as cicatrizes que somente os sobreviventes de um conflito como esse as possuem. Ter participado de uma Guerra Mundial influenciou bastante determinados eventos contidos em sua obra.

Em O Hobbit, os anões desejam voltar para o seu antigo lar, mas para isso, precisarão lutar. Bilbo, que no início da jornada relutou em participar de um conflito que não era seu, acaba mudando de opinião ao entender a dimensão do problema. Em uma determinada cena do filme, Bilbo lamenta ao ouvir o desabafo de um dos anões da companhia criada por Gandalf e Thorin, quando ele menciona que pelo o menos Bilbo possui um lugar para chamar de "lar".

O fato dos anões terem perdido seu reino e não possuírem mais um lar, é o ponto principal que me fez lembrar da peleja que os judeus enfrentam ao longo dos séculos: foram expulsos de suas terras, então para que pudessem sobreviver, tiverem que virar "nômades" e ou se fixar em outros lugares, tentando preservar ao máximo sua cultura e tradição. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Estado de Israel foi criado com o intuito de restituir o antigo lar do povo judeu. Por mais que os palestinos digam que aquelas terras lhes pertencem, os judeus já viviam ali antes mesmo dos árabes tomarem a região e se dividirem em iranianos (antigos persas), afegãos, iraquianos e etc...

Em O Hobbit, Bilbo compreende que, apesar de viver em paz no Condado, o que aconteceu com os anões também poderia acontecer com seu povo. Se aconteceu com um povo da Terra-Média, quem garante que os outros povos estão livres do perigo? É impossível não traçar um paralelo do que já ocorreu no mundo e que agora volta novamente a ser uma ameaça...

O dragão Smaug repousando sobre seu espólio

Gandalf, Bilbo, Thorin e sua companhia de anões nos mandam uma mensagem de que é preciso resistir, por mais que as sombras se deitem novamente sobre o mundo.

Para finalizar, deixo aqui a canção dos anões:

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